Kierkegaard pode ser citado como um filósofo existencialista e teólogo. A sua obra na vertente psicológica explora as emoções e sentimentos dos indivíduos quando confrontados com as escolhas que a vida oferece. Em sua obra ‘As obras do amor’, tratou dos mistérios do amor cristão, de forma a analisar este sentimento em relação às fundações cristãs de caridade e crença. Trouxe a consideração de que o amor em si é o único sentimento do qual não se deve - ou deveria - abandonar, porque no amor estão todas as coisas vivas e não vivas, inclusive o próprio ser humano. Segundo ele, o amor só pode ser conhecido se for alvo de extrema fé.
“O amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1João:4.7,8,10).
A bíblia não compreende o amor como um sentimento, uma emoção ou uma escolha, e sim como a essência do próprio Deus. E ao conhecer a Deus, o homem pode vivenciar e compreender o seu amor. E a partir disto, é possível amar a Deus e às pessoas, com um amor que é reflexo do amor de Deus, ou seja, com um amor incondicional baseado na doação.
“O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1Coríntios 13:4-7)
Kierkegaard utilizou a linguagem Cristã para definir um amor acima dos sentimentos humanos, fundamentando suas considerações em uma base existencialista, que aborda o indivíduo como sendo o único responsável por sua própria condição humana, de onde advém o significado de sua própria existência. No ser.
Sartre que me perdoe, mas é possível fazer uma relação entre o seu conceito que foi apresentado e conceitos do cristianismo. Considerando o amor como uma emoção, segundo Sartre, há, a partir da emoção, um enfraquecimento das barreiras profundas e superficiais do eu. Já no cristianismo, quanto mais se conhece o amor de Deus, mais o eu do indivíduo é transformado em mais semelhante à natureza de Deus.
Kierkegaard discutiu sobre a ética no amor em si, para consigo mesmo e para com o próximo. O fator de amar por amar traz em si muita divergência, uma vez que a menor das traições pode causar a mágoa e por conseguinte a desistência do amor. Mas tornando o amor em um dever da alma e do corpo, como uma prática constante e eterna, torna o Homem que lhe é possuidor um homem livre, livre da angústia e da inconstância, e pronto para amar a si e ao próximo no mais legítimo amor cristão.
Conclui-se, portanto, afirmando que o conceito de amor cristão é divergente com praticamente todos os outros campos de saber no que se diz respeito à origem do amor. Porém, esta abordagem se aproxima de outros saberes no que se refere às suas formas de expressão e aos efeitos decorrentes de sua presença.